A crise que se abateu sobre o país nos últimos anos parece ter posto de parte todos e quaisquer planos urbanísticos de vulto, assim como adiou a possibilidade de jovens casais “construírem” a sua casa. No entanto, em certas freguesias nacionais um movimento tem ganho adeptos, trazendo vida a antigos edifícios e repovoando antigos centros históricos: a Arquitectura Sustentável.
Este tipo de arquitectura num contexto de crise é ideal, tornando o processo de construção (ou reconstrução) mais económico, e reduzindo automaticamente os custos de manutenção do edifício, assim como os custos associados à sua utilização (água, luz, etc).
A arquitectura tradicional da nossa freguesia já abarca todos estes princípios, embora ao longo dos anos esses conhecimentos se tenham vindo a perder. Onde antes existia uma transmissão de saberes, é preciso resgatar o sentido prático dos “antigos”, conhecer o que existia de qualidade em termos arquitectónicos na freguesia, encontrando traços que distinguem a região a nível nacional. Encontrar o tipo de casa que caracteriza a zona, e apreender nela as qualidades no tipo de construção antiga que se perderam, mas que existiam com objectivo concretos. Qualidades essas, que bem olhadas, podem-nos servir de maneira muito interessante.
Localização e Implantação do Edifício – Deve-se ter em conta o aproveitamento solar, virando as casas ao sul, permitindo reduzir custos no aquecimento. Víamos isso nas eiras que estavam sempre viradas a sul, para secar os cereais. Estudar o terreno antes de construir. Se se acumulava ali água no inverno, sabe que terá água à porta, e na sua cave, quando construir a casa, por mais técnicas “modernas” que utilizar.
Dimensões – Deve pensar previamente na utilização que vai dar a cada divisão, projectando-a com esse fim. Antigamente era construído um grande bloco habitacional e depois os currais e os anexos formavam um pátio, estando tudo organizado conforme as funções que realizavam (agrícolas, pecuárias, etc). As dimensões das divisões variavam consoante a sua função, reduzindo o seu custo de construção, e a sua implementação corta muitas vezes o efeito dos ventos e da humidade nocturna.
Materiais – Devem se evitar escolher materiais oriundos de locais longínquos, encarecidos sempre pelo transporte, mas dar prioridade a matéria local, cuja eficácia está comprovada por séculos de utilização. Irá perceber que terá uma enorme redução no desperdício de materiais, assim como na sua factura.
Pormenores – Ao criar caixas de ar nas fundações está a garantir que diminui os problemas de infiltrações de salitre, algo inexistente antigamente. A escolha das tintas com que pinta a sua casa também é muito importante. Existia uma motivo pelo qual as casas antigas raramente tinham problemas de humidade: a cal com que pintavam as paredes. A cal (como algumas tintas modernas) é um produto antifúngico, que impede o aparecimento de manchas de humidade nas suas paredes, algo bastante frequente devido ao alto nível de humidade da nossa freguesia. Deixe as suas paredes, e a sua casa, arejar naturalmente, e o seu bem-estar aumentará exponencialmente. Também ajuda a utilização de semalhas, evitando que as águas escorram pelas paredes.
Empedramento – Não cimente os seus pátios completamente, mas, no máximo, tente obter um equilibro entre essa área e a área empedrada/lavrável. As águas fluviais iram ser absorvidas naturalmente pelas terras, reduzindo o perigo de cheias e os estragos que lhe podem provocar.
Seja criativo – Esteja a pensar construir de raiz ou a restaurar uma edifício, olhe à sua volta, visite as casas dos seus pais, dos seus avós ou até dos seus bisavós, compreenda como eles com muito pouco conseguiram criar casas que sobrevivem por séculos.
Antes, as casas eram ecologicamente perfeitas, utilizando sempre os materiais locais, não existindo desperdício de energia, de materiais, ficando enquadradas com o ambiente que as rodeava. Sinta orgulho nessas características positivas que temos, alimentando-as e acarinhando-as. Sinta orgulho na identidade cultural arquitectónica que une toda a freguesia, pois ao promovê-la estamos a promover um produto único que “damos” ao Mundo.
Texto produzido por Levi Redondo Bolacha com base numa entrevista a Hirodino Pedro, 51 anos, nascido e morador na Coucinheira, mantém um gabinete de projectos de construção civil.