A cultura é um luxo dos ricos!
Tanta vez se ouve esta frase, ou algo parecido, que é fácil acreditar nela. Ignoram-se as inúmeras iniciativas onde museus e galerias se encontram abertas ao público, com acesso livre e gratuito. Ignora-se que a cultura é a soma das tradições de um povo, e que esta soma não vive apenas em sacrossantos edifícios, mas pode ser apreciada na rua, nos parques, absorvida, vivida, sozinho num banco de jardim, rodeado de turistas num museu ou ouvindo um cantar de um rancho folclórico que nos acompanha e balança, dentro das nossas mentes, desde que somos pequenos.
É fácil categorizar a cultura e (tentar) torná-la inacessível, mas esquecemos que ela existe a toda a nossa volta, e quando aproveitamos algo que nos foi deixado, algo que escolhemos dar valor e transmitir aos nossos descendentes, estamos não só a viver a cultura, como a produzi-la.
A cultura vive assim, ignobilmente, o estigma de que é algo reservado às elites ricas do nosso país.
Quem por uma vez distribui o jornal por vários assinantes, apercebe-se como tal noção é completamente errada.
Se temos ideias pré-concebidas em relação à cultura, julgando-a cara e inacessível, também as temos quando chegamos ao portão de uma casa, e sem o cruzar, avaliamos automaticamente o tipo de pessoas que lá viverão. Julgamos serem ricos ou pobres, cuidadosos com as suas coisas ou desleixados, aspiramos a ser como eles, a ter o que eles têm, ou juramos nunca cair em tal miséria. Quão errados estamos em fazer tais juízos!
Se a cultura, e por sinal o jornal, seria um luxo para os ricos, vemos, distribuindo-o aos assinantes, como ele é apreciado em casas pequenas e grandes, ricas e pobres, como o desejo de aceder a algo maior do que as suas próprias paredes é transversal a toda a freguesia, unificador, nivelador. Com pouco ou muito, quem se senta a ler estas palavras, e irá dedicar um pouco do seu tempo em seguida para ler as palavras dos meus colegas, independentemente da cor do seu portão, do estado do seu correio, da fachada da sua casa, é certamente mais rico, que a pessoa que esta noite, se senta, sem a companhia de toda uma freguesia no seu colo.