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Carnaval. 40 anos de folia

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“Do tempo dos meus pais” ou “já no tempo dos meus avós”, a origem dos festejos de Carnaval na zona da Coucinheira parece perder-se no tempo, dependo de quem conta a história, mas não há dúvidas que nos anos 50 do século passado, já miúdos e graúdos faziam travessuras de Carnaval.

Terá sido no final dessa década que se organizavam os primeiros ranchos folclóricos, ora de adultos (coordenado por Mário Martinho) ora de crianças (coordenado por Fernando Caminho), umas vezes com corso, outras apenas
com brincadeiras separadas.
O sucesso do rancho era tal, que em 1966 é convidado para atuar no Carnaval da Marinha Grande.
No entanto, o custo para sustentar esta atividade era alto, tendo em conta a necessidade de se contratar uma fanfarra que os acompanhasse. Existindo um grupo que puxava para o rancho e outro para o carnaval, resolvem juntar-se vontades de maneira a conseguir verbas para as despesas de ambos. A tradição começa a ditar que ao domingo se ia atuar a terras do vizinho concelho da Marinha Grande, guardando-se a terça-feira para um corso na terra. Neste aproveitava-se para se realizar um peditório feito junto a populares e lojas.
Certo ano, numa reunião que durou quase até às 3 da manhã, alguém sugeriu que se fizesse um desfile de carnaval, uma mostra das atividades tradicionais: cada um desfilava ilustrando o seu ofício ou a tradição que havia na família. Na terça-feira de carnaval saíram de várias casas e reuniram-se num corso que terminou no antigo Campo 28 de Agosto, carros alegóricos onde se plantava bacelo, onde se malhava o ferro, onde se empalhavam garrafões ou se cozia o pão.
No final, um baile à noite, muitas vezes nos barracões onde se ensaiava – o do Adelino Barbeiro, o do Albertino Esperança, entre outros – uma vez com músicos de fora que vinham a convite, outro com os ranchos da terra, encerrava as festividades.
O engenho e dedicação desses primeiros anos é espelhado nas palavras de Isaías Feliciano, o criador juntamente com um sobrinho, do primeiro forno de pão. Utilizando bidões velhos, forrando-as de tijolo, instalado numa plataforma puxada por um trator, lá iam amassando e preparando a massa, cozendo 42 pães de cada vez (ainda longe dos 120 do forno atual).
A novidade era tanta que alguns turistas que se encontravam instalados em Monte Real chegavam a fazer todo o cortejo atrás do “carro do pão”, prestando atenção a cada passo do fabrico, e esgotando rapidamente o que era fabricado.

Incorporado na sede
Em 1978 é incorporado na coletividade, organizando-se pela primeira vez grupos e carros alegóricos. Surgem os “Reis do Carnaval” e os “Plateus”: um castelo de Leiria, uma enfermaria com feridos, os índios, os escravos, os piratas, as críticas a alguma situação política da época ou os desejos da população, espelhados em carros construídos cada um à sua maneira. A loucura do Carnaval alastra, e certo ano um grupo que se vestia de ciganos, ao terminar o desfile, faz uma fogueira, tira as roupas e queimam-nas, levando ao máximo a ilustração das suas personagens.
Um carnaval bem-sucedido originava uma certeza: no ano seguinte mais pessoas iriam participar, mais carros iriam incluir-se no desfile. Chegam a ser 20, 30 carros, estendendo-se o percurso quase até às “Terras Frias”. No meio, a gestão difícil e complicada do trânsito, numa época onde não era possível o desviar.
Será nessa altura que o crescimento do evento chega a atrair a RTP que filma uma notícia no local.

Melhorias vindas da Marinha Grande… e de França
Pela proximidade à Marinha Grande, a maioria dos homens sempre para lá se deslocaram em busca de soldo. Certo ano, a Câmara Municipal resolve organizar um carnaval “moderno”, mas as pessoas não aderem e acaba a dar prejuízo. Sem saber o que fazer com todo o material que tinham comprado – carros, vestuário – doam tudo ao GDRC Unidos. Acabam os carros tradicionais, e daí em diante, a organização restringe-se às novas adições.
Simultaneamente, Isaías Feliciano e outros emigrantes em França que regressavam à terra no verão, trazem uma nova ideia: as Majoretes, um grupo de meninas, todas vestidas de igual a fazer habilidades com um bastão.
O impacto foi tão grande, que muitas raparigas da mesma idade aderiram. Começam a ser chamadas para atuar noutras localidades, sendo a primeira saída a À-dos-Pretos (Maceira), local onde atuam com a fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande. Chegam a ir atuar a Lavos (Figueira da Foz), levando perto de 50 pessoas numa carrinha pick-up de caixa aberta… só possível numa altura onde a polícia fechava os olhos a estas aventuras.
A necessidade de renovar a organização faz com que assumam a preparação do evento os jovens que faziam 20 anos nesse ano, passando a assumir cada geração a necessidade de organizar o Carnaval, de angariar fundos para o mesmo, mas tendo também a liberdade para criar um Entrudo único e à sua medida. É também aí que nascem os temas, que vêm a marcar e diferenciar cada ano. Agrupados em grupos maiores e menores, ora com carro ou desfilando a pé, fica na memória o grupo de José Grácio, que nos anos 90 chegava a ter mais de 40 pessoas a dançarem samba pelas
ruas da Coucinheira.
Desde o início, apenas uma coisa parece não ter mudado: quando chega a altura de começar os preparativos, todos os envolvidos vivem o momento ao máximo, dedicando-lhe cada minuto, cada hora livre.

Texto elaborado com base em informações prestadas por Albino Santos, Fernando Caminho e Isaías Feliciano.






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