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Sexualidade. Paixão não é Amor

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Para os grandes pensadores sempre existiu a busca pela definição e compreensão do que é o Amor. Originária do latim amore, a palavra Amor raramente era utilizada na antiga Grécia. Os gregos designavam de Eros, que significa desejo.
A origem de Eros vem da própria Mitologia Grega, considerado o mais belo dos deuses com uma aparência física ímpar e delicadeza em todas as suas ações. O seu mito sofreu várias atribuições desde a era arcaica à época Alexandrina e Romana, entre o século IX a.C. e o séc. VI d.C..
Uma das versões populares é a mencionada, no mais famoso diálogo de Platão sobre o amor, O Banquete. Eros é filho de Pénia e Poro. Pénia, a penúria, ingenuidade, carência e imperícia e Poro a astúcia e fonte infinita de recursos. Eros, posiciona-se entre a ignorância e a percepção de sabedoria, transita entre a carência herdada da mãe e o desejo de abundância como a do pai.

Em outra versão registada, concebido de forma assexuada e sem género, levanta-se a possibilidade de ser filho/a como irmão/ã do Deus, Caos. São ambos deuses primordiais, ou seja, representam o começo e a criação de tudo, génese de todo o universo, a mais antiga das formas de consciência divina. Não existe masculino nem feminino, nem forma física associada a Caos e Eros, sendo que para muitos trata-se apenas de uma força energética. Caos, significa desordem, separação, confusão ou corte. Segundo a mitologia, dos pedaços da cisão do Caos nasce Eros, que vem trazer a ordem, a força curadora e unificadora, o equilíbrio com a desordem de Caos, sendo ambos essenciais para a harmonia do universo.

Pela influência das palavras de muitos poetas e pelas mãos de vários pintores, Eros foi ganhando forma física, representado de cabelo louro, com um corpo de criança que simboliza a eterna juventude que um amor profundo pode proporcionar a uma alma, com asas brancas angelicais e sempre artilhado de arco e flecha. As suas flechas eram destinadas a despertar a paixão nas suas vítimas e muitas foram as vezes em que as escolhas das suas vítimas foram controversas, porque tratava-se de uma criança que como qualquer outra, era imatura, irresponsável, excitante e divertida. Características estas, que também são encontradas durante uma paixão.
Na antiga mitologia romana, pela mesma aparência física Eros é denominado de Cupido, fruto da união da Deusa do Amor Vénus com o Deus da Guerra, Marte. Até aos dias de hoje, este adorado Deus de uma religião politeísta é relembrado até hoje não só pelos mais românticos como pelos católicos e é bastante popular nos artigos.

Muitos filósofos e grandes pensadores, tentaram sempre manter uma distância das histórias e crenças mitológicas, para encontrarem de forma racional diferentes caminhos para o entendimento do eros. Para Platão, considerado o pai da filosofia ocidental e fundador da primeira instituição de ensino superior do mundo ocidental em Atenas, o amor é desejo. É uma energia, uma força perpetuamente insatisfeita e inquieta, uma carência sempre em busca de uma plenitude. Um sujeito em busca do objeto.
O destino de muitas pessoas é determinado pelos seus desejos, é a promessa de felicidade futura que a pessoa constrói na sua mente e depende exatamente da possibilidade de concretização e sua consequente satisfação.

Uma pessoa necessita de um automóvel para o dia a dia. Compra um automóvel dentro das suas possibilidades financeiras. Parece tudo satisfatório, até que dois anos depois a mesma marca do automóvel lança um novo modelo, com linhas estéticas mais modernas, motor mais potente e mais confortável. Ora o satisfatório, deixou de ser satisfação suficiente, pois nasceu o desejo pelo novo modelo, que trará mais satisfação devido às suas mais recentes características. Para suprir esse desejo, é preciso mais dinheiro, o que implica desejar um aumento no trabalho, ou desejar atingir um novo cargo, ou desejar uma nova fonte de rendimento. Mesmo aquele afortunado que obtém o Ferrari que a grande maioria deseja, desejará certamente um modelo mais recente que já saiu para o mercado ou ainda está por sair mas, já se ouve falar dele. Sendo amor, desejo, amor nunca faltará, pois haverá sempre algo de novo para se desejar.
Este estado apaixonante do ser, é fácil de o identificarmos ao fazermos uma retroespetiva de diversas situações que já vivemos, sejam elas materialistas ou mesmo sobre relacionamentos entre pessoas. Porque é neste processo que iniciamos os nossos primeiros relacionamentos amorosos.
Segundo o amor platónico, amamos o que desejamos, desejamos o que não temos e assim que temos, deixamos de amar. Desejamos o que não temos e queremos ter, desejamos o que não somos e queremos ser, desejamos o que não fazemos e gostaríamos de fazer. 

É verdade que todos nós ou ainda sentimos ou já sentimos esse desejo constante por algo mais. Mas sendo o Amor, um sentimento de grandeza, plenitude ao nível de bem estar, satisfação com a vida, jamais poderá ser um sentimento que termina assim que obtemos o que desejamos. E se amor é desejo e desejamos o que ainda não temos, significaria que o amor raramente existiria no presente, e estaria a maior parte do tempo das nossas vidas, no futuro.

A definição de amor mais coerente, vem ao de cima por Aristóteles, (384 a. C. – 322 a. C.) um nome de peso na história da filosofia, também ele grego, foi aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Foi impulsionador da ciência e seus diversos métodos de investigação. E trouxe para o tema, uma definição de amor totalmente diferente da platónica. Enquanto Platão defende que amor é desejo pelo que não temos, para Aristóteles amor é alegria pelo que temos. 

E assim, faz sentido afirmar que o amor reside no presente e que amamos nossos pais, nossos filhos, nossos irmãos e aquela pessoa com quem partilhamos a vida, construímos um lar e uma família. E diferente da paixão, que é repleta de desejo, louca, eufórica e cega, o amor é gratidão pelo que se tem, é consciência de que se trata de um sentimento pleno e pode ser eterno, é alegria e uma força de viver.

Texto por Filipe Araújo
Psicoterapeuta Amor Consciente & Sexualidade
Instagram:
@amorconsciente.filipearaujo

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