Final de manhã ventoso nos Altos de São Paulo, com o terreno onde se tem realizado o “Festival d’Amor” nas nossas costas. À nossa frente, Amorim Alves, presidente da Associação de Solidariedade e Desenvolvimento de Amor, prepara-se para responder à nossa primeira entrevista. Consegue-se perceber o nervosismo no homem habituado a outras andanças. Hesitante de início, rapidamente ganha força nas palavras e deixa transparecer a paixão pelo projecto que aqui veio representar. A ideia de ser apenas mais uma associação perde-se rapidamente e não existe no diálogo a minima dúvida que à nossa frente, embora esteja o presidente da Junta, se encontra o Presidente da “Amor Mais” a defender esta ideia e a apresentá-la aos seus.
Bom Dia, estamos aqui com o Sr Amorim Alves, presidente da Associação Amor Mais, que presentemente também é presidente da Junta de Freguesia. Gostaria que me começasse por dizer quem é o Amorim Alves e qual a sua ligação a Amor?
Eu sou natural do Casal dos Claros, actualmente resido em Amor, nasci, cresci, e trabalho cá e estive sempre aqui ligado. Sou mesmo da freguesia, sou um filho da terra!
Está aqui como representante da associação, no seu papel de presidente. De onde surge esta associação?
A associação surge pela necessidade de apoiar a realização do já tradicional “Festival d’Amor“, onde se percebeu a utilidade de criar um grupo que tivesse a capacidade para organizar o festival, em vez de sobrecarregar a junta de freguesia que tinha até ao momento tratado deste processo. Nasceu então, entre um grupo de cidadãos envolvidos na organização do último festival, a ideia de criar uma associação, ocupando estas pessoas os vários órgãos sociais da mesma. Cria-se a associação, organizou-se o festival com sucesso e estamos agora a tentar potenciar outras actividades onde possamos actuar, existindo um leque muito grande de áreas onde gostaríamos de estar presentes.
É nesses outros âmbitos, onde a associação pode actuar, onde se encaixa o factor solidariedade presente no nome da associação? Que trabalho social esperam puder desenvolver?
Temos como objectivo criar um projecto social que actue directamente com particulares em dificuldades, actue nas escolas, no Centro de Dia, nos lares de idosos, nos locais onde a Junta de Freguesia não pode actuar como gostaria e onde a associação a pode complementar. Gostaríamos de ter um papel relevante de acção social na freguesia.
Nesses três âmbitos, o social, o cultural e a cidadania, qual sente ser a missão da associação?
Não existe um trabalho de acção social relevante na freguesia neste momento, existindo famílias e casas com dificuldades! Esta associação pode e deve criar meios para potenciar as ajudas que estas pessoas precisam. Costuma-se pensar nos órgãos de soberania para resolver estes problemas, e aqui pensa-se sempre na Junta de Freguesia, mas o trabalho que lhe é permitido por lei está muito formatado para os contratos inter-administrativos com a Câmara, com a responsabilidade das várias manutenções que estão sob a tutela da Junta, mas trabalho de carácter social não tem meios adequados para o fazer. Com esta associação espera que se possa criar, fomentar meios para que essas ajudas apareçam e sejam eficazes. No associativismo a freguesia está muito bem servida, mas aqui somos muito bairristas! Muitos habitantes gostam de zelar pela associação do seu lugar, muitas vezes em demérito das restantes da freguesia. A associação não quer forçar qualquer tipo de fusão, mas podemos servir de ponto de ligação para as promover e ajudar a desenvolver eventos de cariz cultural.
Existem contactos com outras instituições cuja natureza esteja vocacionada para o trabalho social (ex: serviços de apoio da igreja, Cáritas, Cruz Vermelha, etc)?
Ainda não foi feito um contacto formal, mas tem de partir de nós a iniciativa de identificar as situações mais prioritárias, e sabendo desde já as enormes dificuldades e limitações que podemos ter, estabelecer os contactos. Mas isso é onde era bom nós chegarmos porque indicava que já estávamos noutro nível de actuação. Por enquanto temos de partir de várias, muitas e pequenas ideias, e analisando e verificando o que se pode fazer por cada uma delas, deixando a associação crescer pouco a pouco por ela própria, através dos pequenos êxitos que esperamos obter.
Em 2007 falou-se em criar um festival de gastronomia e cultura que não chegou a acontecer, acontecendo em 2009. Acha que este conceito ainda se aplica ao que o festival é actualmente?
Embora não exista um prato local com que as pessoas se identifiquem e que possamos chamar nacionalmente de só nosso, acabamos por promover o que aqui se come, a gastronomia tradicional desta região, mas divulgamos também o que somos, o que fazemos e o que criamos, com um pouco de diversão pelo meio.
Os membros actuais da associação são os responsáveis pela última edição do festival, mas ao longo dos anos houve outras pessoas que trouxeram experiência à organização mas que não estiveram presentes em 2015. Gostariam de as trazer de volta à organização do festival e à associação? Consideram chamar pessoas que ainda não tenham estado ligadas a este evento?
O que se passou nos anos anteriores é que existia um grupo de trabalho que tinha como objectivo organizar apenas “aquela” edição do festival, e acabando o festival, dissolvia-se o grupo. Verificámos que acabávamos por estar a perder o conhecimento e a experiência que as pessoas obtinham, e ao perceber que o grupo que se estava a formar em 2015 era bastante unido e com o qual era possível pensar não apenas numa edição mas em várias, tínhamos a obrigação de tentar potenciar esta motivação. Estamos obviamente de portas abertas a antigos parceiros, antigos colaboradores e a pessoas que nunca participaram mas sempre tiveram esse interesse, e esperamos poder recebê-las no seio do nosso grupo.
Muda-se assim de algo pontual para uma experiência continuada?
Valoriza-se um trabalho continuado sem se perder a experiência obtida em cada edição. Claro que estes membros podem sair, permutar ou entrar novos. A associação tem os estatutos públicos e normais de qualquer associação. O interesse dos membros é que nos faz sentir optimistas, pois nenhum dos elementos que esteve connosco mostrou qualquer interesse em sair ou desligar-se deste grupo.
Como é que espera que a população venha a envolver-se no trabalho da associação? De maneira passiva ou activa?
Sei que podemos contar com a participação passiva, com as pessoas aderiram aos eventos que vamos organizar ou ajudar a divulgar, mas pessoalmente prevejo que exista também uma participação bastante activa, com as pessoas a darem elas próprias o passo de se oferecerem para ajudar, identificando-se com os vários projectos que vamos tentar desenvolver, tanto no âmbito cultural como, sendo bastante específico, nas necessidades sociais que esperamos conseguir colmatar.
Qual a abertura da associação para apoiar projectos que não nasçam directamente dos membros ou de alguém ligada à mesma?
Existe abertura para analisar todas as ideias de interesse local, e entre os vários membros, decidir-se dentro dos objectivos desse projecto especifico e das limitações que a associação tem, se é possível apoiar. Temos de ter em conta que é uma associação sem fins lucrativos, o trabalho é todo voluntário, e não existe nenhum membro que seja remunerado. Existem alguns serviços pontuais e protocolos que tiveram de ser onerados, mas sem criar um custo para a associação.
Passeando pelas ruas da freguesia muitas vezes as pessoas perguntam-se se vai existir algum evento nos anos pares (visto que o festival se realiza nos ímpares)..
Existem ideias e vontade dos corpos sociais em se criar um pequeno evento que ajudasse a criar fundos para o desenvolvimento da associação, mas ainda não está nada certo. Pode ser uma pequena versão do festival, mas também pode ser algo completamente diferente e complementar. Terá obrigatoriamente de ter uma menor escala mas sempre com o intuito de unir a freguesia.
O que é que a associação precisa por parte da população?
Precisar? Precisa de muito, mas acima de tudo precisa de pessoas que possam contribuir com o seu trabalho, de meios humanos, porque com esse contributo arranjamos meios para arranjar alguns fundos.
Já existem fontes de rendimento?
De momento não existem, estando limitadas a situações e projectos pontuais como foi o caso do festival. Temos alguns donativos de pequena escala, de pessoas e empresas que contribuíram mas estamos a criar meios para que exista um financiamento directo para as actividades e projectos que vamos fazendo. Queremos que as pessoas se identifiquem com determinada actividade e vejam, ao doar e ao ajudar, o seu contributo a ser utilizado no momento exacto e especificamente para esse fim.
Acha que já existe na freguesia uma ideia de mecenato e cidadania para ajudar um problema que não lhes toque directamente?
Em termos sociais acho que sim. Considero que a maioria das pessoas se mobilizariam para ajudar em caso de catástrofe ou de um infortúnio de uma família da freguesia, como já se verificou no passado. Se conseguirmos sensibilizar a população para algo que não lhe seja tão familiar, não tenho duvida que a freguesia responderia em peso e afirmativamente. Mas ainda estamos no inicio, estamos literalmente no primeiro ano da associação, estamos a começar, a aprender que caminhos podemos tomar, ganhar aprendizagem e confiança para crescer e ganharmos alguma dimensão.
Nos últimos anos o sector que mais cresceu no pais, foi o turismo. Existem ideias para tentar cobrir as falhas que têm acontecido na freguesia em aproveitar esta nova fonte de rendimentos?
Pode acontecer mas para já ainda não surgiram ideias nesse aspecto, mas estamos receptivos.
O projecto mais recente e que será mais visível nas mãos das pessoas é o jornal. Como surge a ideia de se criar um jornal?
É um projecto da comunidade e para a comunidade. Começa pela necessidade de dar a conhecer a associação e as varias actividades que esperamos vir a desenvolver ou casos que podemos vir a apoiar, mas não podemos deixar de lado o objectivo de unir a freguesia, promover e preservar o conhecimento local. Divulgamos a freguesia, a associação, os nossos eventos, os nossos projectos e recolhemos voluntariado. É um meio por excelência para chegar às pessoas! Há alguns anos houveram varias publicações que não sobreviveram muito tempo. A associação resolveu apostar e fazer os possíveis para garantir que este projecto pelo menos por um ano.
Se diz um ano, onde esperam estar dentro de 9 meses, por exemplo?
Esperamos reunirmos e verificar que temos um jornal que é completamente vital à freguesia e auto-sustentável. Tivemos a sorte de puder contar com a Silvia Góis, que se tem empenhado imenso em levantar este projecto do chão, e com os restantes membros estão empenhados em garantir de inicio 12 edições, um ano de jornal, mesmo sabendo que é um enorme desafio.
Os órgãos sociais mantiveram independência em relação aos órgãos editoriais do jornal?
Completamente, os órgãos apoiam a ideia, decidiu-se contactar pessoas que estavam na área para nos ajudar, foi-lhes apresentado o projecto e a partir daí nós estamos cá para os ajudar a levá-lo a bom porto.
Como leitor sente-se entusiasmado com a ideia de ir existir um jornal da freguesia? Como acha que vão reagir as outras pessoas?
Eu, devo ser das pessoas mais entusiasmadas, mas todos nós estamos imensamente curiosos com o que vai sair. A ideia do jornal dar voz ao povo da freguesia, às suas histórias, às suas noticias, é arrebatadora. Como leitor sinto uma enorme curiosidade e acredito que quem não esteja ainda a par do projecto vai ter uma grande surpresa.
Imagine que estamos em 2025, como imagina a associação nessa altura?
Gostaria que existisse jornal. Que tivéssemos apoiado todas as edições do festival e que este tivesse crescido. Não temos ilusões que ele possa crescer muito mais face às limitações da freguesia, mas acreditamos que possa crescer. Gostava que tivesse surgido o evento que mencionei nos anos pares para mais unir e alegrar a vida da freguesia. Na área social, que houvessem várias famílias cujas condições de vida tenham sido melhoradas pela actuação da associação. Que tivesse sido criada riqueza cultura pela existência do jornal e que se elevasse a riqueza humana pela ajuda social que gostaríamos de dar.
Perguntas a Sílvia Neto, Vogal do conselho fiscal
Graças ao seu percurso profissional tem uma imagem muito precisa do tecido social e empresarial da freguesia, como foi feita a sugestão para os potenciais colaboradores jornalísticos do jornal?
Sou nascida e criada na freguesia, existe um conhecimento natural de certas pessoas que ao longo dos anos vão demonstrando interesse nestas areas. Ao surgir este projecto, algumas pessoas, mesmo correndo o risco de estarmos a excluir involuntariamente alguém de inicio, surgem nas nossas mentes e foram propostas à editora. Dai, em diante, os contactos estiveram ao cargo dela assim como os convites, mas como leitora gostaria de ver uma vaga de pessoas a quererem participar no jornal com as suas experiências e historias, e ajudar na elaboração dos seguintes números do jornal.
Como vogal do conselho fiscal tem estado a par da compra de espaços de publicidade, como tem sido a aderência das pessoas contactadas?
Estamos abertos e todo e qualquer contacto para compra de publicidade, mas tem sido muito melhor do que esperávamos. Todas as pessoas que têm sido contactadas têm aderido, não tivemos nenhuma resposta negativa, e não duvido que estejamos no caminho certo para obter a viabilidade financeira.