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Louis Braille, cego desde criança, começou a desenvolver um sistema de código tátil que poderia permitir a pessoas cegas ler e escrever com rapidez e eficiência, apresentado pela primeira vez em 1824. Este sistema de comunicação foi baseado num código militar que fora inventado para facilitar a transmissão de mensagens entre soldados.

Neste alfabeto, cada letra ou sinal são compostos por uma célula. Esta tem 6 pontos de preenchimento e é possível fazer 63 combinações que podem representar letras, pontuações, números, sinais matemáticos e até notas musicais! Os pontos são em alto-relevo, e o leitor compreende através do tacto. Podemos encontrar estes “pontinhos estranhos” nas caixas de medicamentos e em alguns produtos no supermercado, no entanto nem sempre estiveram lá. Imagine o que é que seria ir ao supermercado, não podendo reconhecer maior parte dos produtos! Talvez para si não seja relevante, mas é uma ferramenta poderosa que fornece autonomia e segurança a pessoas com dificuldades visuais.

Alfabeto braille
Alfabeto braille

A ACAPO, organização que apoia pessoas cegas e amblíopes é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. Rita Pereira, membro da coordenação da Ação Social desta organização, explicou prontamente a legislação referente ao ensino do braille. O Ministério da Educação criou então o conceito de “escola de referência”. Estas escolas têm objetivos específicos a atingir, como assegurar o ensino, a aprendizagem da leitura e escrita do Braille e das suas diversas grafias e domínios de aplicação, como também o treino visual específico. A orientação dos alunos nas disciplinas em que as limitações visuais proporcionam dificuldades particulares e a observação e avaliação visual e funcional são igualmente metas importantes. E claro, assegurar o acompanhamento psicológico e a orientação vocacional.

A escola de referência na região de Leiria é o Agrupamento de Escolas Domingos Sequeira (AEDS), que sem hesitar esclareceu o funcionamento do ensino público para crianças com deficiência visual. O acesso ao ensino do braille é gratuito e faz-se maioritariamente no ensino público, pois este dispõe dos recursos humanos e logísticos mais adequados. Relativamente aos materiais e equipamentos necessários, o Ministério da Educação e Cultura, dispõe de um centro de recursos que produz os manuais em braille ou em formato aumentado para crianças com baixa visão. A escola esforça-se por providenciar os restantes materiais que os restantes alunos têm acesso, pois “só assim é que se pode falar de uma educação com equidade”, expressa Marisa Ferreira, docente do agrupamento. A entrada no primeiro ciclo é regular, os alunos são integrados em turmas regulares e os conteúdos são os mesmos. Estas crianças devem começar a aprender o braille, pois o seu tato é bastante sensível, e esta sensibilidade começa a perder-se sucessivamente. A aprendizagem do braille é mais lenta e estas crianças precisam de uma “boa dose” de tempo, treino e motivação! Como tal, o seu esforço escolar é maior e o apoio e suporte da família é extremamente importante.

Todavia há disciplinas em que é necessário outro suporte. Por exemplo, em disciplinas como Educação Física, existem bolas com guiso e outros materiais adaptados que levam as crianças a poderem participar. Na aula de Educação Visual, os alunos acabam por ter um foque diferente, como trabalhar as texturas e lidar com as cores. Marisa defende que aqui os alunos aprendem e desenvolvem o gosto pela arte e pela estética – afinal o objeto de arte é de quem o observa com os recursos que tem – afirma a docente. Em termos sociais, os alunos cegos ou amblíopes são vistos com igualdade pelos seus colegas, que acabam por desenvolver, eles também, uma postura mais inclusiva.

Contudo, o apoio escolar não é o único suporte necessário. Os materiais específicos são caros e a inclusividade social não se pode comprar. Até 2015, nunca existiram pessoas com deficiência a ocupar cargos no Governo. Ana Sofia Antunes, presidente da ACAPO, é a primeira secretária de Estado cega. As condições para pessoas cegas e ambíopes já foram muito piores em Portugal, mas não as podemos ainda considerar satisfatórias. Não nos podemos esquecer igualmente que existem diversas necessidades especiais, e que o apoio dado no ensino vai definir o sucesso destas crianças no futuro.

A questão que se coloca é, tendo em conta que o leitor está a ler ESTE artigo no alfabeto latino e que não o irá encontrar em alfabeto braille, quão inclusiva É a nossa comunidade?

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