Burros vs ignorantes
A nossa herança genética é caprichosa e, lamentavelmente, alguns de nós nasceram com o cérebro de um passarinho. Ninguém tem culpa, são acasos da vida. Outros há que, mesmo herdando uma cabecinha invejável, percorrem todo o nosso sistema de ensino não absorvendo mais que alguns escassos rudimentos de cultura científica. Foi o sistema que vos falhou, amigos. A vossa culpa, a existir, é marginal. Todos vós, ignorantes por um motivo ou outro, mantém todo o meu respeito. Honestamente, não vos tenho menos consideração que aquela que nutro pelo maior e mais sofisticado dos sábios catedráticos. Há, entretanto, um outro grupo, bastante mais incómodo e barulhento: os comentadores das redes sociais. Têm vindo a ganhar, nos últimos tempos, uma notoriedade impressionante. Afinal de contas, têm muito a dizer! Ninguém como eles conhece os segredos por trás das duvidosas origens do covid. Ninguém como eles está a par das tenebrosas intenções do plano de vacinação. Só eles sabem dos efeitos secundários a longo prazo. E, do topo da sua superioridade intelectual, não hesitam em apontar-nos a nossa ignorância sobre estes assuntos tão acima da nossa capacidade mediana. É aqui que eu traço a linha entre ignorantes e burros. Os primeiros, desafortunados, sabem que o são e ficam quietos no seu canto. Os segundos, pelo contrário, gostam de alardear a sua suposta superioridade com muito vazio de pensamento. De um modo geral fazem acusações descabidas e, se alguém os afronta, respondem com muitos links para vídeos duvidosos e para sites que dariam para rir caso não houvesse quem os leve a sério. Nem só de covid e de vacinas eles sobrevivem. Tudo o que envolva ódio e uma visão do mundo “nós contra eles” os alimenta. E é por isso que, parece-me, andam tantas vezes lado a lado com a política que defende o racismo, a xenofobia e a homofobia. Mesmo que, e reparem na beleza em que se completa este círculo, mesmo que sejam eles próprios gays ou negros. É que, enfim, ser burro tem destas coisas.
Carlos Franquinho