A publicação oficial das listas às eleições para a Junta de Freguesia de Amor não trouxe grandes surpresas: quatro das cinco candidaturas foram aceites sem alterações. A exceção foi o Partido Social Democrata (PSD), que teve de retirar um candidato (Telmo Duarte, inicialmente no 12.º lugar) para cumprir a lei da paridade — uma irregularidade que o AmorMais já tinha detetado aquando da entrega provisória. Atenção que atualmente, todas, as cinco listas, incluindo o PSD, estão perfeitamente legais e habilitadas a concorrer às eleições de dia 12.
Quem está nas listas?
No total, 66 candidatos apresentam-se aos eleitores de Amor. O Partido Socialista (PS) é o único a apresentar a lista máxima permitida (18 elementos: 9 titulares e 9 suplentes). As restantes candidaturas optaram pelo mínimo legal — 12 elementos (9 titulares e 3 suplentes).
É importante lembrar que os eleitores elegem a Assembleia de Freguesia. Os membros que integrem o futuro executivo (presidente, tesoureiro e secretário) deixam a Assembleia e são substituídos pelos seguintes nomes da lista. O mesmo acontece em caso de renúncia, suspensão de mandato ou substituição temporária de qualquer membro da assembleia.
No último mandato, tanto PS como PSD registaram várias substituições, chegando a haver uma sessão onde o PS teve de chamar o seu 13.º nome da lista. Para o próximo ciclo, somente este partido terá margem para ir além do 12.º elemento, já que todas as outras candidaturas se limitaram ao número mínimo.
Também é relevante recordar que quem abdicar da Assembleia no início do mandato não poderá regressar mais tarde: a renúncia é válida para o restante mandato.
Paridade e o peso das mulheres
Em Amor, todas as listas cumprem a Lei da Paridade, que impõe o limite máximo de 60% de elementos do mesmo sexo. O PS e a Iniciativa Liberal (IL) apresentam listas equilibradas (50% homens e 50% mulheres), enquanto CDU, PSD e Chega (CH) apresentam 58% de homens e 42% de mulheres.
Esta lei tem impacto na formação do próximo executivo. A lei impede que os três lugares sejam ocupados somente por homens, mesmo em cenários de coligação. Historicamente, a composição da Assembleia tem-se dividido em 4-4-1, ou seja, cada um dos dois partidos com mais votos elegem quatro elementos, e um terceiro consegue eleger um elemento também.
Embora o partido mais votado tenha automaticamente o cargo de presidente da Junta, historicamente na freguesia, essa governação teve de se realizar em coligação com o dito “terceiro partido”. Ora, se todas as listas candidatas são lideradas por homens, poderíamos assumir que seria natural, em coligação, ambos pertencerem ao executivo.
Nesse contexto, o lugar “em aberto” teria de ser ocupado por uma mulher, aumentando as probabilidades das primeiras mulheres de cada lista entrarem no executivo à frente dos respetivos “números dois”.
Idades, origens e escolaridade
No atual momento da nossa democracia, os números da abstenção são muitas vezes explicados ora pela não identificação das pessoas com nenhum dos candidatos, ora com a desilusão do panorama político no geral.
Numa freguesia como a nossa, essa identificação é por vezes díspar e antagónica.
Em contactos realizados um pouco por toda a freguesia, uma espécie de sondagem informal, foi fácil distinguir duas correntes opostas na maioria dos temas.
Os mais jovens, procuram muitas vezes identificação nas listas tanto procurando pessoas da sua idade, que delas façam parte e tenham nelas voz ativa, rejeitando as que não cumprem estes requisitos.
Adultos e seniores, avaliam mais os candidatos pela sua experiência (seja em cargos autárquicos, associações, voluntariado ou laborais) e a “energia” que parece “colocar no que faz”.
As listas refletem perfis distintos. A IL apresenta a média de idades mais baixa (41 anos), seguida pelo PS (45), CH (48), PSD (51) e CDU (61).
Também na escolaridade, as opiniões (e perceções) se dividem. Para os mais jovens, isso parece importante, para adultos e seniores, nem por isso.
Segundo os dados disponíveis nas listas oficiais, é impossível verificar quem estudou o quê e quanto, uma vez que muitas vezes o trabalho que uma pessoa tem não é de todo indicador da escolaridade ou experiência que possui.
O terceiro elemento apontado como fonte de identificação com os membros está na sua “origem”. Seja o local onde nasceram, seja o local onde vivem, ou o local onde têm as suas raízes. Mais uma vez existem diferenças entre os vários escalões etários. Para jovens e seniores, interessa mais a identificação de determinada pessoa com determinada localidade, do que o pormenor se nasceu ou vive nela. Parte da população adulta, assume que onde a pessoa “está”, onde mora naquele momento, é a localidade que associam a determinada membro. Existe ainda uma pequena fração onde quase se exige “pureza locacional”: a pessoa tinha de nascer e ter vivido toda a sua vida num determinado local para ser considerado de lá.
Entre todas as listas existem pessoas de praticamente todas as localidades da freguesia com uma exceção: a Ribeira da Escoura, que não tem qualquer elemento representante.
Algumas listas apresentam uma representatividade maior que outras, com quatro das cinco a apresentarem mesmo candidatos que residem fora da freguesia, exceção do PS que somente apresenta moradores na freguesia.
Parentescos: somos todos primos?
Em freguesias pequenas, a proximidade familiar é inevitável — e Amor não é exceção.
Ao contrário de há quatro anos, não iremos estudar a fundo as árvores genealógicas dos primeiros elementos, embora, e como seja normal a familiaridade entre vários candidatos: os candidatos do PS e PSD, ambos do Casal dos Claros, são primos em 2º grau; os candidatos da IL e CH, um natural do Casalito e outro dos Barreiros, são primos em 4º grau.
Para além de alguns parentescos nas próprias listas, parece-nos mais interessante os que existem entre candidaturas opostas:
- Adriano Neto (PS) e Carlos Gaspar (CDU) — tio e sobrinho
- Sílvia Neto (PS) e Acácio Guedes (PSD) — cunhados
- Daniel Gomes Pereira (CDU) e Hugo Pereira (PS) — tio e sobrinho
- João Lopes Duarte (IL) e Alexandra Lopes Duarte (PS) — irmãos
- Rafael Santos (PSD) e Dário Santos (IL) — tio e sobrinho
- Filipe Passagem (PSD) é irmão de Óscar Passagem (IL) e tio de Nádia Passagem e Dário Santos (IL)
Mais do que rivalidades políticas, as eleições em Amor parecem também ser um assunto de família. E, como se costuma dizer, que venham os almoços de domingo…
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