“Mas tens medo de quê?” Perguntamo-nos isto uma e outra vez. Passamos a vida a dizer “Eu não tenho medo de nada. Nem da morte.” E as crianças passam a vida a ouvir-nos. Crescem com a ideia de que não podem ter medo. De que não devem ter medo. E quando o têm, não podem contá-lo a ninguém, por vezes nem aos próprios pais.
Não estamos a educar as crianças. Estamos a reprimi-las. Não permitimos que se desenvolvam e se tornem crianças confiantes e capazes. É importante ter medo. É importante conhecer os nossos medos. O medo é um alarme interno que muitas vezes nos ajuda a regular. Se não tivéssemos medo atravessaríamos a estrada sem olhar para os dois lados? O medo pode ser “amigo”.
Claro que há medos, os chamados medos “mentirosos” que precisam de ser trabalhados e ultrapassados – o medo dos fantasmas, dos palhaços ou do escuro. Mas jamais devemos proibir-nos de sentir o medo, proibir as crianças de ter medo. Devemos falar sobre isso, ouvir o que têm para dizer. Criar um espaço de partilha.
Afinal de contas o medo é o nosso alarme interno. É por desligarmos o relógio, que o tempo vai parar? Não com toda a certeza!
Texto por Vânia Matias, Terapeuta Ocupacional