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Editorial (Agosto.2018)

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O coração pula, por vezes parece mesmo saltar um batimento. Algo em nós mexe, treme, as palmas das mãos parecem começar a suar de repente, mesmo no pico do inverno. A voz custa a sair, mas os nossos olhos seguem o objecto do nosso desejo sem perder a oportunidade para decorar o mais pequeno movimento. É tudo bom, é tudo perfeito.. até deixar de o ser. É difícil não encontrar nesta descrição o reflexo de algo que já todos sentimos: paixão.

Seja por uma pessoa, objecto ou causa, já existiu (ou existe) algo que nos inflama, que nos faz querer correr sem sentir o cansaço, anunciar o que sentimos a todo o mundo, que nos move e nos eleva, que nos faz sentir leves e eternos. Mas não o fomos, nunca fomos.

A paixão, acabou, e o que restou?

Se tivermos sorte, sobre apenas e só o Amor.

Esse entranhou-se em nós sem repararmos, corre agora nas nossas veias, misturado com as hemoglobinas que transportam as pequenas moléculas de oxigénio que nos permitem respirar (e viver). Esse é calmo, sereno. Ao contrário da paixão, permite-nos avaliar o que temos de bom e de mau, permite-nos sonhar em melhorar, dá-nos força para enfrentar o que nos parece estranho, hostil. Esse ilumina o nosso olhar, não só quando temos um vislumbre do que amamos, mas sempre que esse assunto passa pela nossa mente.

O Amor, anda, não corre, mas não se cansa tão facilmente. Ele perdura, sofre e aguenta, é resiliente, adapta-se sem nunca perder o seu núcleo, sem nunca se abstrair daquelas pequenas características que o fizeram aparecer e crescer.

Precisamos de Amor nesta freguesia, não de paixão. Precisamos que cada um, não se sinta apenas apaixonado por algo que vai acontecer, por um movimento que surge, por uma associação, por uma data, mas que sinta Amor pelo que é seu. Pelos seus antepassados que sangraram ao trabalhar os campos, que suaram ao fazer crescer pinhais, que amaram junto a ribeiros vivos, a prados floridos, que construíram, sobreviveram. Precisamos de avaliar o que existe de bom, para preservar, e de mau, para mudar. Para conscientemente, em conjunto, percebermos que somos tão pequenos no País, que só poderemos ser únicos, se estivermos unidos. Por mais que um projecto, por uma série deles, por uma correnteza de sonhos e desejos. Que quando digam de onde são naturais, quem vos ouve, não sinta apenas curiosidade, mas veja, no discurso de cada um o Amor que têm pela terra que vos viu nascer, crescer, ou finalmente, viver!

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